Em 2005, em um Encontro Nacional dos Estudantes de Letras, tive um embate rápido com o Professor Antonio Carlos Xavier (Lattes), da Universidade Federal de Pernambuco-UFPE. O assunto era o seu livro "Conversas com Lingüistas: virtudes e controvérsias da lingüística" (Sao Paulo: Parábola Editora, 2003), em coorganização com Suzana Cortez.
Durante uma palestra dele de divulgação do livro em questão, fiz uma pergunta sobre qual o principal intuito daquela publicação, divulgação científica ou um convite aos estudantes de Letras para conhecerem mais a linguística? O que eu não esperava era que o prof. A. C. Xavier meio que se ofendesse por eu ter considerado o seu livro como 'apenas' de divulgação científica, apesar de ele mesmo mencionar isso como um dos objetivos da coletânea de entrevistas reunidas no citado livro.
Bem, fora as digladiações, saudáveis, do mundo acadêmico, tive uma surpresa hoje ao folhear o dito livro e bater os olhos no nome do inspirador do nome deste blog: o Prof. Ataliba Teixeira de Castilho (Lattes). Em uma das perguntas-roteiro do livro, tive a grata satisfação de ler a seguinte opinião do mestre, a qual transcrevo:
"Como a Lingüística se insere na Pós-modernidade?
A resposta está toda ela dada pelo pessoal que está fazendo pesquisa em lingüística cognitiva. Nessa orientação de estudos, disciplinas que tinham sido separadas passam a buscar uma interação, numa forma obrigatoriamente interdisciplinar. Os cognitivistas estão, neste momento, fazendo o que parecem ser as questões últimas, as questões extremas do comportamento lingüístico humano. Alguma coisa ue invade, portanto, o modo como a mente opera, propondo-se categorias para se explicar como é que a mente opera, ao menos para se ter uma percepção disso. E aí, todas as distinções clássicas sobre as quais se ergueu a lingüística no começo do século XX, tudo isso se dissolve. Sincronia, diacronia, língua, fala, código, uso, tudo isso se dissolve. Então, é um momento em que estas questões estão sendo apresentadas e acho que a lingüística cognitiva vai plasmar uma nova lingüística muito diferente daquela com a qual nós temos mexido até aqui, com seus campos bem definidos. Isto mesmo que eu acabo de mencionar, esses sistemas todos, tudo poderá ser profundamente reformulado. É muito difícil em poucas palavras caracterizar a agenda cognitivista, mas já há um conjunto de teorias que estão rodando por aí: a teoria dos protótipos, a teoria dos espaços mentais, a teoria da metáfora, a teoria da própria gramática cognitiva, a semântica como estudo da criação de significados, como é que esses significados são gerados, e não de observação de significados prontos prontos e acabados. Este é um momento de muita efervescência na lingüística. Penso que isso vai colocar no centro das questões o que era um pouco considerado perifericamente. O caso da metáfora é o exemplo mais dramático. O que se considerava como um fato anômalo, uma figura da linguagem, de repente você vê que o anômalo é o contrário disso. Tenho a impressão que a lingüística pós-moderna se fará no campo da lingüística cognitiva. Na Unicamp, a professora Mary Kato tentou até instalar esse domínio de cogitações, que não poderia ser um domínio encapsu-lado no Departamento de Lingüística. Mas hoje eu vejo que quando ela propôs isso, lá por 1987, fim dos anos 1980, hoje vejo que sua proposta não foi compreendida, embora ela tivesse razão." (Xavier; Cortez, 2004, p. 58-59)
Mesmo não gostando muito da pergunta dos organizadores, pois é perceptível que todos os outros entrevistados tem ideias diferentes sobre o que seja pós-modernidade, as palavras do mestre são bastante motivadoras. Sem falar na outra surpresa que tive, no finalzinho, sobre a professora May Kato, tentando instalar discussões da Linguística Cognitiva na Unicamp...
Para maiores informações sobre o "Conversas com Lingüistas..." vai esta resenha publicada na DELTA: (clique aqui).
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