sábado, 8 de maio de 2010

O Empreendimento Cognitivo em Linguística I

Histórico e pressupostos teórico-metodológicos


A Linguística Cognitiva (doravante LC) é considerada um novo empreendimento entre as correntes do pensamento linguístico. Da mesma forma que o Programa Gerativista, capitaneado por Noam Chomsky, a linguística cognitiva toma para si um programa de investigação preocupado com a relação entre a linguagem humana, a mente e as experiências sócio-físicas dos falantes. Seu início pode ser traçado até a década de 1970, período conhecido como o das "guerras linguísticas" entre a Semântica Gerativa e a Semântica Interpretativa. Guerra essa terminada com as palavras finais de enterro da Semântica Gerativa por parte de Chomsky.
Esse fato foi relativamente significativo para a formação do embrião da LC, tanto que Langacker irá mencioná-lo (Langacker, 2007), e Lakoff, em entrevista (clique aqui para acessar a entrevista), também faz menção.
Durante a década seguinte, surgem as primeiras publicações e propostas que apontavam para uma convergência de interesses entre diversos estudiosos que seguiam na mesma linha. Com isso, é importante sempre lembrar a postura de insatisfação com as abordagens formalistas de estudos da linguagem, bem exemplificada pelo Gerativismo, na formação do que então será chamado de "Empreendimento cognitivo em lingüística". As publicações mais significativas são as seguintes:

Lakoff e Johnson (1980), o famoso "Metaphors we live by" (Metáforas da vida cotidiana);

Lakoff (1987): "Women, fire and dangerous things: what categories reveal about mind" (Mulheres, fogo e coisas perigosas: o que as categorias revelam sobre a mente);
Johnson (1987): "The body in the mind" (O corpo na mente);
e os dois grandes volumes de
Langacker (1987; 1991): "Foundations of Cognitive Grammar" (Fundamentos de Gramática Cognitiva):




além de diversos artigos que seriam mais tarde coligidos em dois volumes sob o título de :

"Toward a Cognitive Semantics I: Concept Structuring Systems; e Toward a Cognitive Semantics II: Typology and Process in Concept Structuring" (Em busca de uma semântica cognitiva: I Sistemas de Estruturação Conceitual e II Tipologia e Processo na Estruturação Conceitual), de Leonard Talmy (2000).












Essas são algumas das publicações fundadoras da Linguística Cognitiva nos idos de 1980. Claro que muitos outros estudiosos, como Charles Fillmore, contribuiram nessa empreitada por esse período, mas o nome dos três: Lakoff, Langacker e Talmy foram mais proeminentes, tanto que são considerados os pais fundadores da LC.
Na década seguinte, de 1990, outras publicações vão aparecendo e novas abordagens vão se consolidando, como a Gramática de Construções de Adele Goldberg: "Constructions: a construction grammar approach to argument structure" (1995) (trad. Construções: uma abordagem da gramática de construções para a estrutura argumental), seguindo na linha de raciocínio da gramática de construção de Fillmore e Kay.

Felizmente, como gostamos de marcos históricos, considera-se o nascimento da Linguística Cognitiva no ano de 1989, ano de realização do primeiro Congresso Internacional de Linguística Cognitiva, e a criação da Associação Internacional de Linguística Cognitiva (International Cognitive Linguistics Association-ICLA). E dois anos depois, a publicação do periódico Cognitive Linguistics, publicado pela Mouton de Gruyter.
Como forma de manter uma certa coerência no seio do movimento, são bem conhecidos na literatura cognitivista os dois compromissos básicos:

  • O Compromisso de Generalização (Generalization Commitment): em rápidas palavras, seria a premissa de que o estudo da linguagem deve tomar como premissa básica a busca de explicações gerais para os fenômenos linguísticos. Este compromisso vai de encontro com o posicionamento modular da gramática gerativa. Ao invés de se postular um núcleo de investigação, como por exemplo, a sintaxe, o Compromisso de Generalização restringe (ou amplia) a explicação de determinado fenômeno linguístico a processos mais gerais, como os relacionados à memória, atenção, categorização, etc. Sob esse Compromisso, há também uma recusa de se estudar as clássicas subdivisões da linguística como níveis isolados: fonologia, morfologia, sintaxe, semântica e pragmática, são considerados em conjunto, e não são tomados um em detrimento de outro.

  • O Compromisso Cognitivo (Cognitive Commitment): este Compromisso tem a ver com a inserção que a Linguística Cognitiva busca entre as demais ciências cognitivas, como a Psicologia Cognitiva, a Neurociência, Antropologia Cognitiva, etc. A premissa básica deste Compromisso tem a ver com o que Lakoff chama de "converging evidence" (evidência convergente), na qual, os resultados alcançados na Linguística Cognitiva devem estar em acordo com o que é alcançado nas outras ciências cognitivas.
Vejo nesses Compromissos muito mais uma 'profissão de fé', mas como todo movimento, seria estranho que em LC não houvesse uma sistematização das suas premissas básicas na forma de uma 'profissão de fé'. Não deixa de ser diferente, para outros 'credos' (termo perigoso em ciência, mas se tomamos o posicionamento de Feyerabend de ciência, fica bem claro que posicionamentos teóricos são muito similares a credos religiosos, a depender da forma como os teóricos se apegam às suas teorias) em linguística.
Na esteira desses dois compromissos, é também conhecida a divisão de estudos em LC em duas grandes áreas: a Semântica Cognitiva e as Abordagens Cognitivas de Gramática, bem exemplificadas pela Gramática Cognitiva do Langacker e as Gramáticas de Construção, de Adele Goldberg e a "Radical Construction Grammar" (Gramática de Construções Radical), de William Croft.
Nos prósimos posts, nos ocupamos dessas duas grandes áreas.

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